FIAT LUX
Reencontrei A. ao fim de quase 9 anos. Sem dizer-lhe nada, avancei e abracei-a. Ela emocionou-se, eu não, apenas um abraço.
Sou parca em manifestações emocionais e normalmente, dou meio-abraço ou seja, só com um braço e metade do corpo fora de contacto, mas não a A., dei-lhe um abraço pleno e tranquilo.
Ela diz que " somos amigas " à cinquenta anos, eu digo nem sim nem nim. Amizade é coisa muito séria e implica, confiança, honra, respeito...amizade tem pouco a ver com A. quando penso num amigo.
A. é apenas uma conhecida no meio da totalidade amorfa e desconhecida dos demais.
Ouvi atentamente o que me quis dizer, respondi ao que me foi perguntado, enquanto me lembrava das diferenças que nos des-unem, enquanto me lembrava também de Martin Shulman:
" ... E era manhã quando Deus parou diante das suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, dirigiram-se a Ele para receber sua dádiva.
"Para você, Leão, dou o trabalho de mostrar a Minha Criação para o mundo em todo o seu esplendor. Mas voçê precisa tomar cuidado com orgulho e sempre se lembrar de que é Minha Criação, não sua. Pois se voçê se esquecer disto, os homens irão desprezá-lo. Há muita alegria no trabalho que te dou, se ele for bem feito. Para isso você terá a dádiva da Honra."
E Leão voltou para o seu lugar.
E ainda lá estou, num lugar em que luz e sombra se combinam, em que penso a cada momento na carga de trabalho tão dificil que me havia de calhar.
Fiat Lux.